15 - Organização como comunidade (Handy)

A ferramenta

Charles Handy é um sábio e um patrimônio nacional do Reino Unido. Ele foi meu professor na disciplina ambiente corporativo, na faculdade de administração, no início da década de 1980 e discorreu sobre conceitos que estavam décadas à frente do tempo.

Ele fazia provocações, piscava, propunha perguntas e postulava opções mutuamente excludentes normalmente entre eficiência e capital. E raramente dava respostas. As respostas eram pessoais e cabia a nós descobri-las e nos apropriarmos delas.

Há muito tempo, ele questionou o modelo de negócios Anglo saxão. Ele acredita que o sistema possa ter sido eficaz quando os diretores e proprietários e investidores era uma mesma pessoa. Com isso, seus interesses e os da empresa tendiam a estar mais alinhados. Eles compartilhavam o orgulho e a responsabilidade do sucesso corporativo.

Hoje os acionistas são em grande parte os investidores, apostadores, às vezes jogadores. A lei e as regras se tornaram ultrapassadas.

Ele gosta de citar Dave Packard, que, com Bill Hewlett, fundou o gigante de computação de mesmo nome em uma pequena garagem:

“Acho que muitas pessoas supõem, erroneamente que uma empresa existe apenas para ganhar dinheiro. Embora seja um resultado importante da existência de uma empresa é preciso ir mais fundo e descobrir as verdadeiras razões para a nossa razão de existir. À medida que nos aprofundamos nisso chegamos a inevitável conclusão de que um grupo de pessoas se reúne e existe como uma instituição que chamamos de empresa, de modo que seja capaz de realizar algo em conjunto que não poderia realizar individualmente – as empresas contribuem para a sociedade, frase que soa banal, mas que é fundamental”.

As leis empresariais precisam ser atualizadas. Nas palavras de Handy:

“Os funcionários são tratados, conforme as leis e a contabilidade, como propriedade dos donos da

empresa e são registrados como custos, e não como ativos, isso é humilhante, para dizer o mínimo.

Custos devem ser minimizados, enquanto ativos devem ser apreciados e cultivados. A linguagem e

as métricas utilizadas nas empresas precisam ser alteradas. Uma empresa boa é uma comunidade

com o propósito e uma comunidade não de ‘propriedade’ de alguém. Uma comunidade tem

membros, e os membros têm certos direitos incluindo o direito de votar ou de se expressar sobre

questões importantes”.

Ele é a favor da governança corporativa encontrado na Alemanha, onde os funcionários assumem igual responsabilidade pela estratégia corporativa, mas reconhece que somente alguns aspectos podem ser transferidos para o modelo anglo-saxão. Mesmo assim, as empresas deveriam procurar promover um sentido mais amplo de comunidade.

Como usá-la

Você deve ser sua empresa como uma comunidade, diz Handy. Você deve procurar assumir a liderança em áreas como sustentabilidade social e ambiental, e não ser um seguidor relutante.

Se a empresa fica a espera do governo para aprovar mais leis e impor mais regulamenta ações, essa abordagem minimalista e legalista faz as empresas se parecerem com o potencial usurpador que precisa ser freado.

Em um momento em que os ativos intangíveis representam mais de 75% da capitalização de mercado de empresas líderes em todo o mundo, é hora de nos mostrarmos mais sensíveis e valorizar os criadores desse valor:

“Muitas pessoas têm visto sua capacidade de equilibrar o trabalho com as outras áreas da vida se

deteriorar de forma constante, à medida que se veem vítimas das tensões provocadas pela cultura

de trabalhar muitas horas por dia. Alguns temem que a vida executiva esteja se tornando

insustentável em termos sociais. Estamos correndo o risco de encher as empresas com o

equivalente moderno dos monges, que abandonam tudo por causa de seu chamado”.

Negligenciar o meio ambiente pode afugentar os clientes, afirma Handy, mas negligenciar a sua força de trabalho pode afugentar os funcionários. Você deve se ver como uma comunidade, como uma das pessoas que lutam pela melhoria dessa comunidade, incluindo Riqueza, bem-estar e meio ambiente.

Os pontos de vista de Handy são reforçados pelos do ex executivo da Shell Arie de Geus quem escreveu em A empresa viva (Elsevier, 1998) que as empresas correm perigo quando os gerentes concentram-se demais na produção de bens e serviços e se esquecem de que são uma comunidade, uma empresa de pessoas. O autor mostra que as empresas longevas têm esse senso de comunidade, bem como uma identidade distinta, uma cultura de aprendizagem e uma valorização pela sociedade e ambiente em que atuam.

Em um momento de grande desilusão com o modelo capitalista, causada tanto pelos excessos corporativos de empresa como a Enron e Worldcom, do início dos anos 2000, e pela crise de crédito causado pelas hipotecas subprime no final dos anos 2000, Handy adverte que a empresa deve assumir suas responsabilidades com a comunidade de forma séria imediata antes que os governos intervenham e acabem algemando-as.

Quando usá-la

As obras de Handy são de leitura muito prazerosa. Sente-se com uma taça de vinho e permita que as ideias dele dancem uma valsa com as suas.

Quando ter cautela

Ele raramente dá respostas. Esse é o desafio.

 

Figura 15.1 Organização como comunidade

 
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