Os Beatles valeram o risco? Se você fosse um produtor musical da Parlophone nos primeiros meses de 1962, você teria apoiado os Beatles? Lembre-se de que era uma gravadora diferenciada, que nunca havia apoiado qualquer grupo de rock. Na época, havia dezenas de grupos semelhantes, cujos persistentes divulgadores batiam ponto nos estúdios. Um desses grupos, os Beatles, fizeram algumas turnês em Hamburgo e conquistar a fãs em um clube noturno da sua cidade natal, Liverpool. Você soube que outra gravadora, Decca, demonstrar algum interesse, mas eles foram preteridos em favor de um grupo parecido, Brian Poole and the Tremeloes. Alguns executivos da Decca também acreditavam – em uma situação que se tornou clássica – que “esses grupos de guitarristas estão em vias de desaparecer”. Para a primeira incursão de seu estúdio no rock, você teria escolhido esses 4 rapazes de Liverpool, com cabelo no estilo mop-top e uma franja que cobria as têmporas? Vamos olhar para os sóis e nuvens deles (ver a figura). Início de 1962: você teria financiado os Beatles? |
Não poderia ter sido uma decisão fácil. Por um lado, havia vários pretendentes no mercado (Risco 3), e os Beatles não pareciam fazer uma música tão excepcional (Risco 5). Por outro lado, eles tinham carisma e humor (Oportunidade 2), e, por causa de sua experiência em Hamburgo, conquistaram um público fiel entre os frequentadores de clubes noturnos em Liverpool (Oportunidade 1). Esses poderiam ter sido os 4 temas que se destacaram, acima da diagonal, dentro da parábola – dois riscos e duas oportunidades. Ninguém poderia culpá-lo se você tivesse rejeitado os caras. No entanto, você tinha um pressentimento. Eles pareciam ter algo especial. Talvez pudessem aperfeiçoar suas habilidades musicais. Talvez pudessem ter uma divulgação mais eficaz. Talvez alguns dos riscos pudessem ser mitigados. Talvez eles pudessem desenvolver as capacidades de cantar e compor, abolir (contratualmente) o consumo de álcool e os palavrões no palco. Você decidiu apoiá-los. E foi uma boa decisão. Como um adendo, vamos visualizar como a decisão de apoiá-los teria sido diferente um ano depois, na Primavera de 1963. O primeiro single dos Beatles “Love Me Do”, chegou ao top 20 britânico. O segundo, “Please Please Me”, e o primeiro álbum de mesmo nome, ficou na primeira posição nas paradas de single de álbuns. Foi fogo de palha? Será que eles apareceriam e desapareceriam rapidamente, como aconteceu com muitos grupos anteriores? Você não teria como saber, naquela época, que o álbum ficaria em primeiro lugar por 30 semanas, antes de ser substituído pelo segundo álbum da banda; que o quarto single, “She Loves Me”, se tornaria o maior sucesso de vendas de todos os tempos, superando os sucessos do artista que eles admiravam Elvis Presley, e que continuaria a ser assim por mais de uma década. O que você sabia era que obviamente tomara a decisão certa no ano anterior. Você também havia os subestimado imensamente como músicos. Eles escreviam e compunham músicas contagiantes. O gráfico sóis e nuvens foi transformado. Primavera de 1963: você financiaria os Beatles agora? |
Todos os riscos do gráfico anterior tinham recuado para a esquerda e caído na insignificância. Mesmo o risco de os 4 integrantes se separarem foi bastante reduzido. Enquanto isso, as oportunidades eram deslumbrantes. A popularidade do grupo havia chegado às nuvens. Seu potencial para compor era formidável. E para coroar tudo, é uma nova imensa oportunidade tinha surgido (Oportunidade 5). Será que eles poderiam se tornar o primeiro grupo britânico a impressionar o público americano? Você teria apoiado os Beatles na Primavera de 1963? O gráfico de sóis e nuvens diz tudo. Você apostaria na loteria se soubesse quais números seriam sorteados? |
VAUGHAN (2013, p. 296/301).
Figura 83.1 O quebra-cabeça de risco da due diligence estratégica
Figura 83.2 Gráfico sóis e nuvens