83 – Gráfico do sóis e nuvens (Evans)

A ferramenta

“Quando escrita em chinês, a palavra ‘crise’ é composta por dois ideogramas. Um representa perigo, enquanto o outro representa oportunidade”, Afirmou John F Kennedy.
O risco e a oportunidade podem realmente ser os 2 lados da mesma moeda. Eles são justapostos de forma esclarecedora no gráfico sóis e nuvens.
A SSD procura encontrar o equilíbrio entre riscos e oportunidades no cumprimento de seu plano, em quatro áreas principais:
  • Risco de demanda – Quão arriscada é a futura demanda do mercado?
  • Risco competitivo –Quão arriscada é a intensidade competitiva no futuro?
  • Risco da posição competitiva – Quão arriscada é a futura posição competitiva de sua empresa?
  • Risco do plano de negócios – Quão arriscado é o plano de sua empresa?
  • Cada uma dessas áreas de risco e oportunidade ajuda a compor um quebra-cabeça de risco, mostrado na Figura 83.1. A SSD procura reunir as quatro peças do quebra-cabeça e avaliar o equilíbrio global entre riscos e oportunidades.
    Você pode reunir facilmente os dados para fazer a análise de risco de sua empresa:
  • Anteriormente, você elaborou previsões de demanda de mercado sessão 3. Quais são os principais riscos da sua realização dessas previsões? Quais são as oportunidades que permitiriam que essas previsões fossem ultrapassadas? Qual é a probabilidade de ocorrência desses riscos e oportunidades? Qual seria o impacto se elas ocorressem?
  • Faça o mesmo para os principais riscos e oportunidades da concorrência no setor que você levantou anteriormente (Seção 4).
  • Faça o mesmo para os principais riscos e oportunidades relativos à sua oposição competitiva (Seção 5).
  • Faça o mesmo para a sua estratégia emergente (Seções 6-8).
  • Agora você está pronto para avaliar estes principais riscos e oportunidades em um gráfico sóis e nuvens.

    Como usá-la

    Criei o gráfico sóis e nuvens no início dos anos 1990. Desde então, tenho visto reproduções em vários formatos, nos relatórios de meus concorrentes de consultoria. Eles dizem que a imitação é a mais sincera forma de elogio, mas eu ainda brigo comigo mesmo porque não me preocupei em assegurar os direitos autorais do gráfico na época!
    O gráfico continua a ser copiado porque funciona. Ele consegue reunir em um gráfico as conclusões sobre a importância relativa de todas as principais questões estratégicas. Ele mostra, esquemática e visualmente, se as oportunidades superam os riscos ou vice-versa. Em suma, em um gráfico, você sabe se sua estratégia pode ou não receber financiamento.
    O gráfico (Figura 83.2) o obriga a enxergar cada risco (e oportunidade) a partir de duas perspectivas: a probabilidade de acontecer e qual seria o impacto se ocorresse. Você não precisa quantificar, mas ter uma ideia do impacto relativo de cada questão sobre o valor da empresa.
    No gráfico, os riscos são representados por nuvens, que as oportunidades por sóis. Cada risco (e oportunidade) precisa ser colocado na posição adequada do gráfico, levando em conta a probabilidade de ocorrer e o impacto.
    O gráfico sóis e nuvens informa dois fatores principais sobre se sua estratégia pode ser respaldada: se existe algum risco (ou oportunidade) extraordinário e se o equilíbrio geral entre risco e oportunidade é favorável.
    Risco extraordinário
    Dê uma olhada no canto direito do gráfico. Há uma nuvem pesada ali, com dois pontos de exclamação. É um risco bastante provável e muito grande, que pode inviabilizar seu plano. Se você se deparar com um risco desses, sua estratégia não poderá ser financiada.
    Quanto mais perto uma nuvem chegar daquela nuvem carregada, mais negativa será a situação. Os riscos que pairam em diagonal (do canto superior esquerdo para o canto inferior direito) podem ser controlados, desde que sejam contrabalançados pelas oportunidades. Mas assim que uma nuvem começa a se mover em direção à nuvem carregada (por exemplo, perto da oportunidade C), é nesse ponto que você deve começar a se preocupar.
    Contudo, imagine um sol brilhando onde está a nuvem da tempestade. É uma notícia fantástica, e você terá vários candidatos à sua porta para financiá-lo.
    O equilíbrio
    Em termos gerais, não há riscos que inviabilizem um plano. O objetivo principal do gráfico sóis e nuvens será, então, apresentar o equilíbrio entre risco e oportunidade. As oportunidades superam os riscos? Dado o quadro geral, os sóis estão posicionados mais favoravelmente que as nuvens? O as nuvens se sobrepõem?
    A maneira de analisar um gráfico sóis e nuvens é olhar primeiro para a área geral acima da diagonal e na direção da nuvem de tempestade. Essa é a área coberta na Figura 83.2 pela parábola. Qualquer risco ou oportunidade ali será digno de atenção: terá pelo menos uma probabilidade razoável de ocorrer e pelo menos um impacto razoável.
    Os riscos e oportunidades abaixo da diagonal são menos importantes, de baixa ou média probabilidade e de baixo a médio impacto – ou não são grandes o suficiente ou não têm probabilidade suficiente de ocorrer, para merecerem grande preocupação.
    Dê uma olhada no padrão de sóis e nuvens em seu gráfico em torno da área da parábola. Quanto mais perto cada sol e nuvem estiver da nuvem de tempestade, mais importante será a informação. Se o padrão de sóis aparecer mais bem colocado que o de nuvens, sua estratégia poderá ser financiada.
    No gráfico anterior, há duas nuvens e dois sóis acima da diagonal. Mas o risco D está fora da parábola. A oportunidade B é a mais bem colocada. O risco A e a oportunidade A se equilibram aproximadamente, da mesma forma que ocorre com outros riscos e oportunidades. A oportunidade B aparece mais afastada do grupo. As oportunidades parecem superar os riscos. O negócio parece ter chances de ser financiado.
    Uma das melhores características do gráfico sóis e nuvens é que ele pode ser dinâmico. Se o equilíbrio entre risco e oportunidade mostrado no gráfico for desfavorável, você terá condições de resolver o problema – e o gráfico mostrará isso com clareza.
    Para cada risco, existem fatores atenuantes. Muitos, inclusive os relativos à demanda do mercado e concorrência (as nuvens mais escuras na Figura 83.2), estarão além de seu controle. Os riscos relativos à posição competitiva da empresa, no entanto, estão dentro do seu poder de influência. Elas podem, de fato, ser parte integral de sua estratégia emergente.
    Da mesma forma, a estratégia pode aumentar a probabilidade de alcançar uma oportunidade-chave no gráfico, deslocando o sol para a direita.
    A mitigação de riscos ou melhoria de oportunidades no gráfico sóis e nuvens pode ser indicada com setas e alvos, que mostrarão para onde sua empresa deve apontar e lembrá-lo de que aquele é o alvo. A estratégia deve aprimorar o equilíbrio global de risco e oportunidade na empresa.

    Quando usá-la

    Você pode usar o gráfico sóis e nuvens em diversas situações. Ele foi projetado para fins de SDD em transações como aquisições, alianças e investimentos, mas tem igual utilidade na revisão de projetos, avaliação da estratégia (como aqui) o mesmo no desenvolvimento e mudança de carreira. Poderia até ter sido útil para decidir se alguém deveria ter respaldado ou não os Beatles (ver Box).

    Quando ter cautela

    Não se preocupe se o seu gráfico de sóis e nuvens não fizer muito sentido inicialmente. Ele mudará com reflexões e discussões posteriores. Sempre indiscutivelmente, a sua maior virtude é o estímulo à discussão. Ele provoca alterações.
    Lembre-se, você não pode nem precisa ser exato neste gráfico. É uma representação pictórica de risco e oportunidade, projetado para lhe dar uma ideia sobre o equilíbrio entre risco e oportunidade em sua estratégia.
    E quanto aos riscos altamente improváveis, mas de potencial catastrófico, você pode se perguntar? O gráfico também nos contempla. No outono de 2001, meus colegas e eu aconselháva-mos um cliente sobre um possível investimento em uma empresa envolvida em operações aeroportuárias. Após a primeira semana de trabalho, produzimos um relatório e um gráfico preliminar de sóis e nuvens. Na caixa do canto superior esquerdo, colocamos um risco intitulado “incidente aéreo de grande porte”. Pensávamos em um acidente aéreo grave que poderia levar à interdição prolongada de uma classe comum de aeronaves. Parecia improvável, mas teria impacto muito grande se acontecesse.
    O atentado de 11 de setembro ocorreu apenas alguns dias mais tarde. Nunca havíamos previsto algo tão devastador, tão inconcebivelmente pernicioso, mas pelo menos tínhamos alertado nosso cliente para os riscos extremos envolvidos no setor aéreo. O acordo foi renegociado e concluído com êxito.
      Os Beatles valeram o risco?  
    Se você fosse um produtor musical da Parlophone nos primeiros meses de 1962, você teria apoiado os Beatles?        
    Lembre-se de que era uma gravadora diferenciada, que nunca havia apoiado qualquer grupo de rock.
    Na época, havia dezenas de grupos semelhantes, cujos persistentes divulgadores batiam ponto nos estúdios. Um desses grupos, os Beatles, fizeram algumas turnês em Hamburgo e conquistar a fãs em um clube noturno da sua cidade natal, Liverpool.        
    Você soube que outra gravadora, Decca, demonstrar algum interesse, mas eles foram preteridos em favor de um grupo parecido, Brian Poole and the Tremeloes. Alguns executivos da Decca também acreditavam – em uma situação que se tornou clássica – que “esses grupos de guitarristas estão em vias de desaparecer”. Para a primeira incursão de seu estúdio no rock, você teria escolhido esses 4 rapazes de Liverpool, com cabelo no estilo mop-top e uma franja que cobria as têmporas? Vamos olhar para os sóis e nuvens deles (ver a figura).  
    Início de 1962: você teria financiado os Beatles?
       Não poderia ter sido uma decisão fácil. Por um lado, havia vários pretendentes no mercado (Risco 3), e os Beatles não pareciam fazer uma música tão excepcional (Risco 5). Por outro lado, eles tinham carisma e humor (Oportunidade 2), e, por causa de sua experiência em Hamburgo, conquistaram um público fiel entre os frequentadores de clubes noturnos em Liverpool (Oportunidade 1). Esses poderiam ter sido os 4 temas que se destacaram, acima da diagonal, dentro da parábola – dois riscos e duas oportunidades.        
    Ninguém poderia culpá-lo se você tivesse rejeitado os caras. No entanto, você tinha um pressentimento. Eles pareciam ter algo especial. Talvez pudessem aperfeiçoar suas habilidades musicais. Talvez pudessem ter uma divulgação mais eficaz. Talvez alguns dos riscos pudessem ser mitigados. Talvez eles pudessem desenvolver as capacidades de cantar e compor, abolir (contratualmente) o consumo de álcool e os palavrões no palco. Você decidiu apoiá-los.          
    E foi uma boa decisão.        
    Como um adendo, vamos visualizar como a decisão de apoiá-los teria sido diferente um ano depois, na Primavera de 1963. O primeiro single dos Beatles “Love Me Do”, chegou ao top 20 britânico. O segundo, “Please Please Me”, e o primeiro álbum de mesmo nome, ficou na primeira posição nas paradas de single de álbuns. Foi fogo de palha? Será que eles apareceriam e desapareceriam rapidamente, como aconteceu com muitos grupos anteriores?
            Você não teria como saber, naquela época, que o álbum ficaria em primeiro lugar por 30 semanas, antes de ser substituído pelo segundo álbum da banda; que o quarto single, “She Loves Me”, se tornaria o maior sucesso de vendas de todos os tempos, superando os sucessos do artista que eles admiravam Elvis Presley, e que continuaria a ser assim por mais de uma década.    
         O que você sabia era que obviamente tomara a decisão certa no ano anterior. Você também havia os subestimado imensamente como músicos. Eles escreviam e compunham músicas contagiantes. O gráfico sóis e nuvens foi transformado.        
    Primavera de 1963: você financiaria os Beatles agora?  
            Todos os riscos do gráfico anterior tinham recuado para a esquerda e caído na insignificância. Mesmo o risco de os 4 integrantes se separarem foi bastante reduzido. Enquanto isso, as oportunidades eram deslumbrantes.
    A popularidade do grupo havia chegado às nuvens. Seu potencial para compor era formidável. E para coroar tudo, é uma nova imensa oportunidade tinha surgido (Oportunidade 5).
    Será que eles poderiam se tornar o primeiro grupo britânico a impressionar o público americano?
    Você teria apoiado os Beatles na Primavera de 1963? O gráfico de sóis e nuvens diz tudo. Você apostaria na loteria se soubesse quais números seriam sorteados?

    VAUGHAN (2013, p. 296/301).

    Figura 83.1   O quebra-cabeça de risco da due diligence estratégica

    Figura 83.2   Gráfico sóis e nuvens

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